31 julho 2005

PARELHEIROS: A AMAZÔNIA QUE ESTÁ AQUI

Walter Tesch (*)
A Amazônia hoje é parte da agenda global, devido a sua importância na rede de sustentação da vida no planeta. Está, portanto, inserida no circuito global de múltiplos significados e objetos das mais díspares propostas no plano internacional e nacional.
Aqui em São Paulo, menos de 40 Km da Praça da Sé, está a nossa “Amazônia”, um enclave regional com especiais peculiaridades que se destacam do conjunto da sociedade paulista, desconhecida da mesma. Trata-se dos distritos de Parelheiros e Marsilac sob gestão da Subprefeitura de Parelheiros. Uma reserva com condições naturais que ainda propicia a manutenção dos mananciais que produzem 30% da água utilizada pela metrópole, contendo restos da Mata Atlântica, constituindo-se um patrimônio ambiental que evidentemente, guarda as devidas proporções, pode ser assemelhado, no nível micro regional, a um sistema social e natural com semelhanças da Amazônia do norte do Brasil, tanto no potencial, virtudes, problemas e perspectivas.
Similar a Amazônia, na região de Parelheiros, a população se encontra entre os mais baixos índices de pobreza rodeada de um enorme patrimônio. As necessidades vitais e imediatas se sobrepõem e dificultam visualizar as necessidades vitais estratégicas, tanto da população residente como do entorno. A estrutura da propriedade fundiária, tal como na Amazônia é ambígua, com pouca transparência dificultando a defesa o manejo e uso do solo adequadamente, permitindo uma similar grilagem da Amazônia. A região tem semelhança com regiões de avanço das fronteiras, com frágil presença do Estado, estimulando diversas modalidades de ocupação, invasões, posse irregular e predatória, sem respeito ao patrimônio natural e ambiental, fonte de trabalho e vida no imediato e no futuro. Na “Amazônia Paulista”, o poder público, emaranhado em normas superpostas, ambíguas e até contrapostas, fica paralisado frente ao avanço da irresponsabilidade para com as futuras gerações e a população atual.
Na Amazônia se propõe um “congelamento do desmatamento”, nas regiões de mananciais se propõe um congelamento da ocupação desenfreada com a “invasão zero”. Como na Amazônia, a abertura de vias, equipamentos públicos empurram a fronteira da ocupação irregular, assim como, emergem debates e confrontos de interesses desde o ápice até a base da pirâmide social, como no caso do Rodoanel. Diante deste quadro só uma mobilização ampla pode sensibilizar os fatores de poder na sociedade e a opinião pública para uma efetiva estabilização de uma população regional que cresce a razão de 9% ao ano.
Lá, como aqui, o desafio imediato e cotidiano do conjunto da sociedade, dos jovens, das mulheres é gerar condições de vida digna com trabalho e renda de forma equilibrada e sustentável em base ao patrimônio ambiental local. Preservando e explorando adequadamente os recursos em condições que permitem sustentar a rede existencial da comunidade agora e no futuro.
O potencial é enorme, sem limites em vários aspectos: produção de bens e serviços da nova economia, desenvolvimento de um turismo sustentável, desenvolver um projeto de negociações de compensações nas relações estratégicas com o conjunto da metrópole, desenvolver um sistema racional de exploração da área reflorestada, do potencial de mineração. Transformar as necessidades em oportunidades. Contudo, o desafio imediato é superar os obstáculos que freiam o potencial tanto da Amazônia paulista, como da Amazônia do Norte, a carência de uma nova cultura (no sentido do cultivo das relação homem meio ambiente), de uma educação adequada, de qualificação e projetos de desenvolvimento ajustados a esta peculiar realidade. Portanto, sem o desenvolvimento de uma consciência, de uma prática e exercício da defesa da Amazônia Paulista certamente se torna difícil o paulista visualizar a defesa da Amazônia brasileira no norte.
SALVEMOS agora a Amazônia que está aqui.
(*) Subprefeito de Parelheiros, especial para o Zona Sul Notícias, julho de 2005

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