26 abril 2008


POR QUE PARELHEIROS É UMA AMAZÔNIA PAULISTANA[1]

Parelheiros é uma Subprefeitura de São Paulo que ocupa ¼ do território do município, com 353 km² e uma população de 180 mil habitantes. A cidade não tem autonomia de produção de água, importa mais que 50% de fora do município. Parelheiros é uma região de mananciais responsável pelo abastecimento da água que São Paulo consome.

É uma região síntese do Brasil com peculiaridades que se destacam do conjunto da sociedade paulistana em duas Aldeias Indígenas, uma Cratera Meteorítica, a primeira imigração oficial de alemães no século XIX e a de japoneses no século XX. Com 25.797 m2 de área verde por habitante, contém restos da Mata Atlântica e constitui um patrimônio ambiental que, guardadas as devidas proporções, assemelha-se no nível microrregional, ao sistema social e natural da Amazônia, no norte do Brasil, seja no seu potencial, nas virtudes, nos desafios e perspectivas.

Similarmente à Amazônia, em Parelheiros a população mostra os piores índices de pobreza embora esteja rodeada de uma enorme riqueza natural. As necessidades vitais e imediatas recém chegadas à região se sobrepõem às perspectivas estratégicas da importância ambiental. A estrutura da propriedade fundiária em Parelheiros, tal como na Amazônia, é ambígua propiciando o uso inadequado do solo, permitindo a grilagem, ocupações irregulares e desmatamento. Na Amazônia argumentam que este modelo é necessário para produzir alimentos, aqui para produzir casas. Parelheiros têm semelhanças com regiões de expansão de fronteiras, com uma frágil presença do Estado, o que estimula diversas modalidades de ocupações, invasões, posse irregular e predatória, sem respeito ao patrimônio natural e ambiental, fonte de trabalho e vida no presente e no futuro. Na Amazônia Paulistana, o poder público era frágil há três anos atrás e tem ação agravada pelo emaranhado de normas Federais, Estaduais e Municipais superpostas, ambíguas e até contrapostas que freqüentemente levam a uma paralisia. Confundindo os direitos individuais com os interesses do bem comum.

Na Amazônia se propõe um congelamento do desmatamento e nas regiões de mananciais se propõe um congelamento da ocupação desenfreada. Na Amazônia, a abertura de vias e instalação de equipamentos públicos empurra a fronteira induzindo a ocupação irregular. Neste contexto emergem debates e confrontos de interesses desde o ápice até a base da pirâmide social, como no caso do Rodoanel (pedindo alça de acesso para ir a praia) ou das resistências às remoções de ocupações irregulares nas Áreas de Preservação Permanente. Diante deste quadro, só uma mobilização ampla poderia sensibilizar os fatores de poder na sociedade e na opinião pública para garantir a estabilização territorial da ocupação de uma população que cresce à razão de 8 a 9% ao ano. Portanto, sem o desenvolvimento de uma consciência e uma prática e exercício de Defesa da Amazônia Paulistana, certamente se torna difícil ao paulista visualizar a defesa da Amazônia brasileira no norte.

[1] A marca “Amazônia Paulistana” me ocorreu devido a uma história que alguém contou: trata-se de um cidadão japonês que chegou ao aeroporto de São Paulo e entrou num táxi e comandou: Amazônia, Amazônia. Na ocasião o taxista não sabia que temos uma “Amazônia Paulistana”. (Walter Tesch – Subprefeito de Parelheiros)

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