12 junho 2005

PARELHEIROS: ESTRADA DE FERRO É ATRAÇÃO

Salvemos a estação Evangelista de Souza da ruína

HISTÓRICO DA LINHA

Projetada desde 1889, a Mairinque-Santos, linha que quebraria o monopólio da SPR para ligar o interior ao litoral, foi iniciada em 1929 e terminada em 1937, com a ligação das duas frentes, uma vindo de Santos e outra de Mairinque. É uma das obras ferroviárias mais reportadas por livros no Brasil. Já havia, no entanto, tráfego desde 1930 nas duas partes, e o trecho desde Santos até Samaritá havia sido adquirido em 1927 da Southern São Paulo Railway, operante desde 1913. Com o fim da Sorocabana e a criação da Fepasa, em 1971, a linha foi prolongada até Boa Vista, no fim dos anos 80 (retificação do antigo ramal de Campinas).
Houve tráfego de passageiros entre Mairinque e Santos até cerce de 1975, e mais tarde entre Embu-Guaçu e Santos, até novembro de 1997. A linha opera até hoje sob a administração da Ferroban.
A ESTAÇÃO
A estação de Evangelista de Souza, homenagem ao Barão de Mauá, foi entregue em 1935 como um edifício construído em madeira, e sua versão em alvenaria somente ficou pronta no ano seguinte. Durante o projeto, seu nome era Dúvida, nome de um rio que corre perto da estação. Acabou ganhando o nome atual. Mais tarde, em 1957, a estação passou a ser o ponto de encontro do ramal de Jurubatuba, aberto nesse ano, para ligar diretamente o centro da cidade de São Paulo a Mairinque-Santos. A estação passou, então, a ser mais parte desse ramal que de quem vinha de Mairinque, recebendo trens do subúrbio até cerca de 1980, enquanto que, vindo de Mairinque, os trens de passageiros foram suprimidos por volta de 1973.
Foi mantido, entretanto, um trem para os funcionários da Fepasa, e mais tarde, nos anos 80, foi instituído novamente o transporte de passageiros na linha, mas fazendo apenas o trecho entre Embu-Guaçu e Santos.
Em 1997, foi suspenso Embu-Guaçu-Santos para passageiros, a estação deixou de atender passageiros, se transformando em tapera. A estação tem um acesso difícil para automóvel, sendo o meio menos difícil vir de Engenheiro Marsilac; de Barragem, a estrada tem difícil trânsito, tendo melhorado um pouco recentemente.
Hoje a estação só está ativa devido a presença de um destacamento da guarda municipal com treinamento para proteção ambiental.
O DESAFIO PARA SÃO PAULO É RECUPERAR A ESTAÇÃO COMO UM PATRIMÔNIO HISTÓRICO CULTURAL. QUEM SE CANDIDATA A MOBILIZAR A SOCIEDADE, ESTE PESSOAL QUE VISITA DASLU PODERIA DEDICAR ALGO DOS SEUS EXCEDENTES???

A Região de Parelheiros e a Cultura Guarani

A região originariamente foi habitada por índios Tupis, mas foi somente no século XIX que um subgrupo guarani ali se estabeleceu, compondo hoje uma população com de cerca de 900 habitantes. Assim, a menos de 50 quilômetros aproximadamente da praça da Sé, temos duas Aldeias indígenas de referência, a Aldeia Krucutu e Morro da Saudade/Tenondé Porá. Estas Aldeias estão da região administrada pela Subprefeitura de Parelheiros e em recente reunião com o Subprefeito (foto ao lado com os dois caciques, Marcos Tupã e Timóteo e sua família) estabeleceram uma plataforma de cooperação no sentido de valorizar a cultura indígena, sua identidade e tradição como um patrimônio cultural da região e da metrópole paulista.
Para maiores informações contate o gabinete do Subprefeito (11) 5926-6501.

10 junho 2005

PARELHEIROS PATRIMÔNIO AMBIENTAL DA CIDADE DE SÃO PAULO

Parelheiros, além de uma Cratera, duas Aldeias indígenas, tem a maior reserva verde da cidade, poderíamos dizer que a Amazônia de São Paulo.

09 junho 2005

POR UMA GESTÃO SUSTENTÁVEL NA REGIÃO DE MANANCIAIS

Esboço para um marco de análise da aliança PV-PSDB em São Paulo
  • Contextualizando a gestão;
  • A gestão no marco de uma aliança;
  • O exercício do poder público com outro olhar e outra prática;
  • As relações intersetoriais em uma administração complexa;
  • As subprefeitura como expressão do pode local.
1-CONTEXTUALIZANDO A GESTÃO
No segundo turno das eleições municipais de São Paulo em 2004, o Partido Verde apoiou José Serra da coligação “Ética e Trabalho”. Ao fechar a aliança um grupo no PV tentou que a mesma se concretizasse com assinatura de 10 pontos de um programa compromisso em base às 43 propostas para governar São Paulo. Com isto se buscava uma forma diferente de formular pactos político. Este documento não foi assinado, mas, com as 43 propostas terminou sendo uma referência na ação política e na aliança. Este esboço poderá servir para uma reflexão sobre aliança de partidos diversos na administração de uma diversidade como é a metrópole paulista.
Como parece ser natural ou por carência de experiência na administração de alianças, ao concretizar-se a vitória, a negociação não seguiu um modelo ou cronograma linear, tanto que ainda se considera o processo está aberto. Os vereadores seguiram por um lado e a direção municipal por outro. A direção municipal concretizou formalizar o compromisso de gestão de uma das 31 Subprefeituras de São Paulo, Parelheiros. Esta administração de constituição recente e nos moldes clássicos do loteamento político é considerada uma Subprefeitura pobre, de periferia e sem muito atrativo. Para os verdes contudo significava defender um programa de preservação de um patrimônio ambiental para o futuro da metrópole paulista, onde vivem cerca de 13 milhões de habitantes no município e 18 na área metropolitana e se visualiza escassez de água.
Porque os verdes valorizam esta região considerada periferia pela metrópole? Certamente a região situada no sul do município e que inclui o distrito de Marsilac é frágil econômica e socialmente, distante do centro administrativo 40 quilômetros. Mas ali tem origem 30% da água da cidade. São 360 Km2, representando mais de 24% do município é portanto, estratégico para a vida. Tem algumas características ou peculiaridades pouco conhecidas pelos habitantes da cidade: a Cratera Colônia com 3,5 km2 é marco geológico produzida por meteorito faz milhões de anos, é uma das poucas regiões agrícolas do município; é a sede do maior complexo religioso da Igreja Messiânica, o Solo Sagrado, com valorização da natureza. Possui duas aldeias indígenas e foi o primeiro núcleo oficial de imigração alemã no início dos anos 1800. No campo social é um desafio, pois tem um adensamento populacional acelerado sobre os mananciais, a razão de 8% ao ano, aumentando em 86% a população de 1991 a 2000. A região está toda sob a lei de proteção de mananciais, tem uma APA (Área de Proteção Ambiental), além disso, tem uma área de proteção integral, o Parque Estadual da Serra do Mar, com remanescente de Mata Atlântica. Considerando estas peculiaridades a gestão verde assumiu um conjunto de princípios orientadores para a promoção de políticas de governo para o desenvolvimento local, para frear o adensamento com inclusão dos atuais habitantes.
  • Valorizar, Preservar e Recuperar o patrimônio ambiental para produzir água e ar de qualidade para a metrópole e uso adequados da população local.
  • Inclusão social na perspectiva da sustentabilidade em base a trabalho e renda que fortaleça a coesão social no territorial com estabilidade (economia social e solidária com cooperativismo), em base a vocação e potencialidade do patrimônio local.
  • Promover a participação intersetorial constituir e construir uma identidade local em uma visão propositiva de uso do patrimônio ambiental de forma sustentável e ao serviço do bem comum.
  • Garantir que ações do governo local sejam universalizadas e democraticamente acompanhadas de forma transparente pela população organizada, desenvolvendo um sentido de pertença.
  • Uma gestão pública com políticas de satisfação das demandas orientadas ao desenvolvimento local equilibrado sintonizando a Preservação e Proteção dos Mananciais como um patrimônio coletivo local.
2- A GESTÃO NO MARCO DE UMA ALIANÇA
O Partido Verde não ganhou a eleição, mas contribuiu com a vitória e certamente implica uma marca na gestão, tanto em Parelheiros, como na Secretaria do Verde e Meio Ambiente, embora isto não seja muito clara para uma parte dos membros do PV. É bom recordar que uma aliança é uma dinâmica não linear com “fogo amigo” e “inimigo” de maior ou menor intensidade. A hegemonia na aliança é do PSDB com suas diferenças e interesses diversificados, o PFL (com o vice prefeito), o PPS, o PDT, o PSB e outras expressões de uma base aliada ampla. A gestão em Parelheiros exige contemplar relações com 31 outras Subprefeituras, e intersetorialidade com as diversas Secretarias, coordenar diretamente com a Secretaria de Coordenação das Subprefeituras. Esta relação implica o funcionamento dos recursos, da infra-estrutura, da sintonia com o conjunto das diretrizes da administração.
É neste contexto que a gestão verde tem o desafio de satisfazer as demandas do cotidiano e buscar um diferencial programático que aponte o exercício de uma forma diferente de fazer política, de implementar relações de qualidade não clientelista entre Estado e Sociedade Civil em uma periferia que adensa em 8% sua população ao ano, quando o crescimento populacional nacional chega a 2%. Embora o discurso seja o de inovar na política, com surpresa se escuta simplificações de que fazer a gestão é cascalhar vias.
Como acontece a direção da gestão em um órgão público? Para implementar um programa de gestão com seriedade é necessário equipe sintonizada, um time. Este time é constituído inicialmente com cargos de funções decisórias para manter a gestão funcionando adequadamente e para implementar um programa diferenciado de qualidade. Para isto o gestor dispõe para nomear, os denominados cargos de comissão ou de confiança, que são de tipo “livre provimento total”, “livre provimento condicionado a perfil”, “livre provimento de servidor”(pode nomear quem quiser desde que seja servidor e às vezes condicionado a perfil profissional). No caso de Parelheiros, sobre mais de 240 funcionários, somente 14 foram nomeados pelo Subprefeito do PV levando em consideração habilidades, experiências e critérios definidos e fundamentados. Contudo, seis de livre provimento permaneceram com indicação do PPS e administração, funcionando enquadrado nas atividades da Subprefeitura. Portanto, o PV governa Parelheiros subordinado à hegemonia no quadro geral de aliança e tem o comando no contexto local da gestão onde cede espaço a indicados da base aliada. Contudo o comando e a responsabilidade total da gestão local é da equipe verde do PV subordinada ao programa e a gestão da Prefeitura, considerando o marco programático da aliança eleitoral. São estas peculiaridades que com freqüência não são entendidas ou ignoradas, por filiados, dirigentes e vereadores que pressionam para ser atendidos as suas necessidades individuais ou grupais, os integrantes da base aliada que pressionam a administração central argumentando que a gestão do PV em Parelheiros não estáa atendendo suas demandas.
3- GESTÃO E O EXECÍCIO DO PODER COM OUTRO OLHAR E OUTRA PRÁTICA
Uma gestão diferente é exercitar uma espécie de ingenuidade consciente. Como fazer isto sem recursos financeiros, materiais e humanos, rejeitando a idéia patrimonialista de que o Estado é propriedade de quem está gerindo ou da pressão clientelista que supõe ser o Estado, pai de todos, com a obrigação de substituir o cidadão. Uma idéia força que orienta a atual gestão é utilizar o poder de convocatória do Estado para mobilizar energias e recursos da sociedade local em uma perspectiva construtiva. Por exemplo: fazer a Festa do Aniversário do bairro convidando os cidadãos integrarem uma Comissão conjunta, resgatar tradições, solicitar contribuições dentro de um programa comum, otimizar os recursos existentes. Neste contexto, uma maneira diferente de fazer a política, ou seja, de gerir a cidade é a transparência e informação como forma de pedagogia cidadã. Atender as demandas da população não no estilo clientelista e nem usar o Estado como propriedade, mas implantar critérios transparentes e racionais. Criar condições para que o servidor público dedicado contribua com sua comunidade ao constatar transparência das intenções e ações. No fundo é diminuir a distância política entre Estado e Sociedade com maior participação ancorado nos cinco princípios estratégicos que orientam a gestão sustentável. O exercício cotidiano dos instrumentos de poder de gestão vão sendo orientados para consolidar a credibilidade de uma proposta de gestão diferente, fazendo disto uma escola de consolidação de um conceito de cidadania usando o princípio da reciprocidade. Como? Quando uma Comissão de moradores traz demandas, que são analisadas em conjunto com o poder público considerando o território, harmonizada as necessidades em função das possibilidades e estabelecido um compromisso com a comunidade local com ações ligadas a qualidade de vida. Sempre assinalando e destacando que a aplicação de recursos deve ser valorizado pela comunidade e que os moradores tem de cumprir com sua parte.
A estrutura de gestão da Subprefeitura de Parelheiros é enxuta e de formação recente, foi criada em 2003. Sua estrutura administrativa de funcionamento deveria representar o conceito de descentralização administrativa na gestão da metrópole. Contudo, na prática atual a Subprefeitura tem basicamente duas áreas operacionais de atendimento de demandas: as Coordenadorias de Obras e Manutenção e a de Assistência e Desenvolvimento Social. As outras duas Coordenadorias existentes são de apoio estratégico. Planejamento que cuida do cadastro, licenciamento e fiscalização; e a administrativa financeira que atende orçamento, pessoal e suprimentos. Mais o expediente, o Gabinete diário que coordena o cotidiano, defesa civil, comunicação, etc. Neste quadro também é necessário um exercício de imaginação para efetivar uma gestão diferenciada. O setor de Saúde e de Educação não estão sob a administração da Subprefeitura, são geridos centralmente pelas respectivas Secretarias. A linha geral da gestão sobre as áreas de Saúde e Educação é a de acompanhar suas ações e equipamentos no território, mesmo sem poder de gestão. Neste sentido, a Subprefeitura recebe demandas, pressões pelos respectivos serviços e busca orientar soluções na intermediação que atenda o cidadão com qualidade.
São diversos projetos e ações em andamento que podem ilustrar um estilo de gestão. Por exemplo, a gestão de Parelheiros avaliou a partir da realidade que a mulher joga um papel importante na região e merece atenção da política pública. Concretizou junto com a Coordenadoria da Mulher e Secretaria de Participação um projeto para implantar um Centro de Cidadania da Mulher, pois a região tem maiores índices de gravidez precoce, mulher chefe de família. Está iniciando um sistema de co-gestão com a comunidade para a manutenção de vias rurais através de “Conserveiros de vias”, um programa de apoio às ONGs que protagonizam projetos sustentáveis e não só processam demandas de clientela política. Está articulando o potencial do cooperativismo para estimular um setor de economia social e promovendo condições para organização dos principais atores da economia local como efetivos interlocutores do Estado. Abre espaço para que se formulem políticas local, sem manipulação político-partidária, isto é válido tanto para fóruns, como para Conselhos.
4-AS RELAÇÕES INTERSETORIAIS EM UMA ADMINISTRAÇÃO COMPLEXA
Esta relação esta dentro da recomendação da intersetorialidade que evite suporposição de energia e recursos. A SVMA (Secretaria do Verde e do Meio Ambiente) já tem por mandato institucional, foco em Parelheiros devido a que esta região se encontra sob a Lei dos Mananciais. Embora o Secretário da SVMA não tenha sido indicação direta do PV, a executiva municipal referendou esta indicação e o Secretário foi participar na formulação das linhas programáticas do PV para governar São Paulo e por esta razão, além dos aspectos estruturais, os aspectos programáticos criaram uma sinergia entre a gestão verde de Parelheiros e a gestão SVMA no interior da gestão Serra. O Secretário além do apoio em presença em ações frente à área de risco, na funcionalidade da APA Capivari Monos (Área de Proteção Ambiental), cedeu horas profissionais parciais de quatro servidores da SVMA para contribuem com a Subprefeitura de Parelheiros.
A sintonia de programática entre a SVMA e a gestão da Subprefeitura pode ser muito positiva como referência de gestão em áreas de mananciais devido a abordagem conjunta e planejada de vários eixos temáticos como: sintonizar um planejamento de economia de escala entre a APA Capivari Monos e a Subprefeitura de Parelheiros, sintonizar projetos comuns intersetoriais na região na área de educação, fiscalização, saneamento, etc. Foram efetuadas discussões sobre saneamentos adequado a região, está se iniciando um projeto de relações intersetoriais para agricultura orgânica de inclusão social junto com a Secretaria do Trabalho, discussão sobre um marco legislativo seguro para o desenvolvimento da silvicultura na região de mananciais, de forma a gerar trabalho e renda. Criar condições para efetivar um trabalho da Guarda Civil, especializado na vigilância de mananciais. Trabalho comum para valorizar a região na agenda do conjunto da administração de forma a capitalizar o valor intangível da região. Entre outros, por estes fatos entendo importante uma reflexão mais ampla e responsável, um olhar além da subjetividade individual e do micro poder individual, a conexão positiva entre estes dois espaços de gestão dos verdes no município de São Paulo. Entendo que isto é bom para administração e para a cidade. Isto também é Ética, diferenciar entre os caminhos do que é bom e do que é negativo para a felicidade do homem na cidade independente do impacto em um ou outro indivíduo.
5-AS SUBPREFEITURA COMO EXPRESSÃO DO PODE LOCAL
Em uma metrópole como São Paulo não existe uma forma definitiva de descentralização, mas este tema deve estar permanentemente na agenda. A Subprefeitura é o espaço desta descentralização, pela experiência recente, na atual gestão este processo não está definido, no início houve uma sensível centralização e ainda antes de terminar o primeiro semestre se observa uma descentralização equilibrada. Certamente as peculiaridades e perfil de cada uma das 31 Subprefeitura em que está dividida a administração impede uma fórmula única de administração e descentralização. Entendo que as modalidade de participação construtiva constituem o caminho da descentralização e fortalecimento do poder local, sem cair na metodologia de mobilização demagógica nem na participação de pressão clientelista. Um planejamento de visão de futuro de cada região e a busca deste projeto de região pode ser a base que sustente uma descentralização realista. No contexto da aliança, a atual gestão verde de Parelheiros tem bastante liberdade para exercer uma modalidade de descentralização construtiva baseada nas linhas gerais de um plano estratégico, com um papel claro da região no contexto do futuro da metrópole paulista. Este é um tema aberto e de debate permanente e construtivo.

07 junho 2005

EX-MINISTRO DO PERU VISITA REGIÃO DE PARELHEIROS

O Ex-Ministro do Trabalho do atual governo do Peru, Fernando Villaran, visitou a região de Parelheiros nesta terça-feira (07/06).
Villaran, engenheiro industrial, especialista em políticas para micro e pequenas empresas, está no Brasil para participar no Seminário Promovido pelo Instituto Ethos de Responsabilidade Social.

06 junho 2005

EUCALIPTO E FLORESTAS - CADEIA VIRTUOSA DE SUSTENTABILIDADE NA ÁREA DE MANANCIAL

Na região de Parelheiros e Marsilac existe, sem exploração racional, um patrimônio florestal exótico, ocupando cerca de 4% do território. Este patrimônio está congelado e improdutivo pela superposição de normas e confusão burocrática. Esta insegurança trava o desenvolvimento e a geração de trabalho e renda. Constatamos no cotidiano da administração de Parelheiros proprietários detidos no trabalho clandestino, com dificuldade para realizar sua produção sem uma solução clara da estrutura legal do Estado. Portanto o desafio imediato é clarificar as normas que ofereça segurança para o manejo florestal em Parelheiros e Marsilac, cadastrar as unidades produtivas, articular proprietários e membros da cadeia produtiva, estabelecer um programa de qualificação e aperfeiçoamento para o desenvolvimento em base a este patrimônio florestal local. A conseqüência imediata é gerar riqueza na região, emprego, consolidar o espaço evitando invasões, ou seja, preservar a área de mananciais com produção adequada.
O eucalipto tem vários subprodutos de acordo a variedade, produz óleo das folhas utilizado na indústria de perfumes, medicamento e alimentação com grande demanda internacional. A produção integrada, a reutilização das folhas produz vapor para caldeira, energia termoelétrica e adubo para a própria plantação. Além das folhas a madeira tem múltiplas utilidades tanto na indústria de móveis, construção e o carvão. O espaço ainda é utilizado para o pastoreio de animais como o gado e estimular outras produções consorciadas como mel e cogumelos.
Um planejamento racional de produção florestal na região de Parelheiros consolidará o território, preservando a vocação e destinação daquele espaço, mantendo a permeabilidade do solo, gerando riqueza para a região, trabalho e renda. Uns 60% da produção de óleo é exportada para União Européia, por ser região de mananciais, podemos obter selo de comércio justo. A produtividade e a geração de postos de trabalho pode variar de acordo a tecnologia, mas com 35 toneladas de folhas se produz meia tonelada de óleo a um preço médio de custo de R$ 10,00 e venda de R$ 16,00. A estrutura produtiva pode variar, destilarias pequenas de 60 quilos dia, grandes plantações ou consórcios de pequenos proprietários fornecedores de folhas de 10 a 20 ha.
Walter Tesch

PARELHEIROS: RESGATANDO O "FATOR COMUNIDADE" NA FESTA DOS 178 ANOS

Penso que as lideranças tem consciência do quadro atual do país e do mundo em termos de trabalho e condições de vida. A região de Parelheiros com uma população que beira 200 mil habitantes, com um mercado de trabalho formal que não ultrapassa muito provavelmente 7 mil (o censo de 2000 mostrava menos de 6 mil pessoas com carteira assinada). A distância de quase 1h30 dos centros empregadores, coloca um desafio para a região. Se considerarmos que em 2000 tínhamos matriculados nos equipamentos de educação sob o controle da Prefeitura 7.100 alunos e em 2004 são 14.200, nos vem o questionamento sobre o mercado de trabalho para estes jovens nos próximos anos. É por esta razão que chamo a atenção para a redescoberta e o desenvolvimento do "fator comunidade" e da reflexão sobre o "capital social" da região.
O "fator comunidade" é um diferencial para qualificar uma comunidade comparativamente a outras. A diferença do "fator econômico e financeiro" ou do "técnico", o "fator comunidade" é a energia social que emerge que renasce da comunidade e que mostra conhecer os modos de fazer acontecer. Também de maneira parecida, mas não igual, é utilizado para comparações o conceito de "capital social". Uma comunidade, o povo que habita um território possui maior ou menor "capital social" olhando-se pelo prisma do nível de educação geral e especializada, supondo que esta educação se associe a capacidade daquela comunidade e organizar, produzir e consumir. Certamente a avaliação do tema do "capital social" pode estar associado com o fato de uma empresa desejar fazer um investimento na região e querer encontrar recursos formados que não exija mais gastos para sua formação, ou seja, além do capital financeiro, de infra-estrutura e de trabalho, um investimento exige pensar no "capital social". Uma comunidade organizada e com nível de formação tem um "fator comunidade" maior e capacidade de sobrevivência em um ambiente hostil com maior qualidade.
Como temos afirmado em várias oportunidades, para superar as características de baixa coesão e fragilidade do tecido social, devido a ocupação do território a razão de 8% de incremento ao ano. A grande maioria dos bairros são povoados novos, sem identidade e coesão social. Para que Parelheiros consolide sua identidade no cenário metropolitano é necessário uma presença ativa das Igrejas, das Associações, dos setores de interesse organizados em um grande esforço de cooperação e na reconstrução do espírito comunitário da região. É neste contexto que se deve valorizar os três dias da FESTA DE 178 ANOS DE PARELHEIROS, com a presença do Bispo Dom Fernando e do Padre Marcelo na abertura, do ATO ECUMÊNICO de todas as crenças pela Paz. A FESTA foi organizada por uma Comissão com participação voluntária de pessoas da comunidade. Também do comércio e das empresas. As pessoas em cooperação se desenvolvem e se enriquecem umas as outras. Esta atitude de participação na comunidade está baseada num princípio muito utilizado nas relações entre interesses e grupos que é o princípio do ganha-ganha. A mobilização para a FESTA, com desfile cívico, grupos culturais, exposições de artesãos e memória cultural, com presença de 20 mil pessoas nos três dias de comemorações demonstrou que o "fator comunidade" pode construir outro futuro para a região.
Walter Tesch

LOTEAMENTOS CLANDESTINOS IRREGULARES: CRONOLOGIA DA IMPOTÊNCIA

Onde nada o direito permite, tudo pode ser feito e se legitima o errado
Com sabedoria diante da perspectiva da escassez da água e crescimento da cidade, o poder público reservou a região de Parelheiros como área de mananciais e de proteção ambiental, para produzir água para a metrópole, agora e no futuro. Contudo, a crise do trabalho e a urbanização em base ao poder econômico empurrou para esta região (mananciais) milhões de pessoas. No âmbito da subprefeitura com os distritos de Parelheiros e Marsilac, último bastião das águas, já se instalaram 200 mil pessoas, o adensamento foi de 86% entre 1991 e 2000. É também campeã dos menores índices de desenvolvimento humano. Com restrições legais para ocupação do solo, houve desvalorização imobiliária, mas clandestinamente se desenvolveram várias estratégias de invasão, ocupação e venda irregular. O cidadão desinformado ou acreditando que no Brasil sempre se dá um jeitinho, seja pagando pedágio, pressionando politicamente ou pelo cansaço, vai conseguindo, mesmo em invasões, que se estenda o transporte, a energia, a água, enfim todos os serviços públicos. Para uns esta estratégia é negócio e meio de vida.
Recentemente, em um Bairro de Parelheiros, denominado Recanto Campo Belo no loteamento denominado "Residencial Vilela" aconteceu um desabamento que colocou em situação de risco várias casas. Nessa situação o poder público tem obrigação de retirar e oferecer abrigo de emergência ou algumas alternativas seguindo uma Portaria específica. Se buscar a origem do loteamento se constata que o mesmo foi clandestino e aquelas casas em situação de risco, que estão em área pública, despejam esgoto em riacho que vai a represa Guarapiranga.
Se constata que a simples repressão do poder público diminui o processo de ocupação, mas a morosidade do ritual burocrático judicial não interrompe a ocupação. Por ser irregular as construções seguem sem preocupação técnica, com movimentação de terra, infiltração de água servida e esgotos em barrancos e taludes provocando contaminação e criando as áreas de risco. O Estado fica só no "pronto socorro" do risco, intervindo nas conseqüências, com enormes custos político, social e financeiros para retirar, abrigar, destinar e recompor o espaço deteriorado.
No caso do "Condomínio Residencial Vilela", o loteamento iniciou em março de 1989. Com o seguinte anúncio em jornal: "ESQUEÇA O ALUGUEL, a J.B.S. Empreendimentos, (em frente a Av. Senador Teotonio Vilela), todos os melhoramentos e várias linhas de ônibus. Pequena entrada e saldo em 60 meses". A então administração da Capela do Socorro aciona a fiscalização tentando paralisar a ocupação irregular com embargo em março de 1989. Em novembro, o PARSOLO 1, José Luiz Pinto, notifica SIMPRAMAR S/C LTDA e seus representantes a suspenderem os recebimentos das prestações dos lotes. Ao mesmo tempo informa ao Ministério Público que os infratores eram os mesmos de outros loteamentos clandestino (Lago El Dourado, Lago Azul e Recanto do Parque Cocaia). Os vendedores nem comprovaram serem os proprietários da área; no Vilela, sem respeitar preservação de cursos de água, sem esgoto, sem água encanada, luz, guias, sarjetas, etc, venderam mais de 400 lotes que não podem ser regularizados por estar em zona de mananciais.
Em janeiro de 1990, Parsolo notifica novamente a empresa. Em 23 de maio denuncia o referido loteamento a Ernesto Miltodias, diretor do Departamento Estadual de Polícia do Consumidor-DECON. Nesta mesma data Hidely Fianzini informa a Resolo G, que o "referido loteamento foi implantado ainda este ano e sua ocupação é baixa, estando localizado em área de proteção de mananciais" e mais adiante, "...propomos, S.M.J a remessa do presente processo a JUD para medidas judiciais cabíveis". Em 19 julho JUD12 faz relatório, em 6 de setembro Resolo faz novo relatório do vôo 144, informando que o loteamento irregular em zona rural continua ampliando, já em 11 de novembro de 1990 constata ocupação de 50% da área.
Em 4 de janeiro o diretor do JUD, Wagner Passeto em atenção ao relatório de 19 de julho deu um parecer. Finalmente, 26 de dezembro de 1991 o Ministério Público enuncia na 21ª vara criminal os responsáveis pelo loteamento. Em 15 de abril os procuradores do JUD 12 propõem medida cautelar contra SIPRAMAR: ".. exaurida sem êxito, a via administrativa, com intuito desfazer cessar irregularidade do parcelamento, somente resta a municipalidade socorrer-se do judiciário, com vistas a impedir que os requeridos prossigam com a prática de atos ilegais, levados a efeito em atual e iminentes prejuízo de terceiros... os adquirentes sofrerão real prejuízo pois, dificilmente poderão ter seus títulos reconhecidos e a coletividade ... suportar ônus de um empreendimentos executado em desacordo com os reais interesses do Município e da sociedade... agravando contaminação dos mananciais..."(Procuradores Ângela C.V.C. e José L.M. de Souza Pereira). Em outubro os infratores entram com mandado de Segurança com pedido de Liminar a fim de dar efeito suspensivo e a procuradora Ângela faz defesa.
Em 9 de dezembro de 1992, vistoria do Resolo constata 70% de ocupação da área. Em 9 de Janeiro de 1995 a procuradora JU 12, Denise do Carmo R.S. de Oliveira declarou ter sido o loteamento considerado IRREVERSÍVEL. Em 5 de janeiro de 1995 foi feito o Acórdão de Apelação criminal 143.006-3/2-SP.
Em 7 de março de 1996, Braz da Silva, um dos sócios assinou termo de compromisso de regularização em Resolo G. Em 16 de setembro de 1998 Resolo G alerta a administração da Capela do Socorro, sobre o princípio de invasão da Rua 5, reservada pelo então parcelador clandestino para doação pública. O processo 1998-0.001-125-1 que trata da regularização do loteamento tramita até hoje no Resolo.G.
Em 25 de janeiro de 2005, em decorrência de fortes chuvas houve deslizamento de terra no final da Rua 3 com a Rua 5, sendo interditada 42 moradias, sendo consideradas com risco iminente de desabamento 21.
A Subprefeitura:
a) Providência abrigo provisório nas imediações aplicando recursos;
b) Inicia processo de Cadastramento, convencimento e desencadeia operação de remoção acompanhado pela SVMA e DUSM. A maioria se recusa a sair, convencidos a solicitar indenização à Prefeitura;
c) A SPPA convoca lideranças do Bairro, explica o marco de decisões, entrega Portaria que disciplina encaminhamento de população em área de risco, faz folheto de esclarecimento a população e registra em Ata teor dos entendimentos.
Diante da recusa em sair da área de risco e assinar termo de responsabilidade, a SPPA registra Boletim de Ocorrência em Delegacia de Polícia e solicita ao jurídico em coordenação com o DUSM, encaminhar processo de remoção judicial e processo de eventual apoio pecuniário a SEHAB.
Esta cronologia registra com fidelidade o modelo de legitimação dos empreendimentos clandestinos e irregulares na região. Isto confirmando o famoso jeitinho e no final tudo dá certo. Embora tenha feito uma avaliação dos enormes custos financeiros e sociais para a sociedade e cidadão. Imaginemos a quantia de horas-homens, a mobilização de veículos e todos os recursos envolvidos nestes 16 anos.
Walter Tesch - Subprefeito de Parelheiros desde 21 de fevereiro de 2005